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Prefácio - por Angela Carneiro

Posted on 17:00 by Marcela Godoy

Meu filho mais novo ainda não tinha 5 anos quando, ao acordar, me abriu seu sorriso mais perfeito e anunciou: — Mãe, hoje não é amanhã! Ele tinha entendido. Liah é assim. Após longas conversas com o Cuco ela entende. E o Cuco também! Ah! que prazer ler um livro como este! Um livro que não é um produto. Não é para ter série na TV, ou continuações, ou obrigatoriamente ser adotado por escolas. Um livro escrito pelo prazer e necessidade de escrever, assim, encontra no leitor idêntico prazer e, pasmem! idêntica necessidade de lê-lo! E, sem dúvida alguma, uma honra fazer parte da obra apresentando-a no prefácio. Liah, a personagem, é apenas uma criança. A gente não sabe muito bem qual a sua idade, pois, apesar de usar chupeta, suas perguntas, suas dúvidas, são de gente mais do que grande. De gente grandiosa. E ela nos remete àquela nossa criança que queria saber, que perguntava. Aí, a gente cresce e acha que não fica bem não saber. Paramos de perguntar, no entanto, nossas dúvidas estão lá. Lá onde? Lá onde sempre estiveram. As perguntas de Liah são as mesmas que encheram os compêndios de filosofia: quem eu sou? De onde vim? Para onde vou? Porque vim? Através das respostas e das perguntas do Cuco, o grande mago do tempo, Liah cria seu entendimento sobre o tempo e se acalma. Ufa! Assim como meu filho mais velho, durante o almoço, ao querer saber quando iria morrer, se satisfez com minha resposta: — Você já acabou de comer? Ele fez que não. — Você já acabou de viver, meu filho? Ele fez que não. — Então, só morremos quando acabamos de viver! Isso o acalmou. Olhou para seu prato ainda pela metade, e acabou de comer tranqüilo.

Liah e o Relógio é um livro para sempre. Não é um livro só para crianças, aliás, é um livro que a criança também pode ler, assim, daquele jeito de antes, aconchegada no colo do adulto querido, ambos descobrindo juntos as terras do Era uma vez. Um livro que a gente vai reler uma vez por ano, não só pelo prazer da leitura, mas para nos lembrar de sempre, sempre, saber perguntar. Uma escritora madura como Marcela, que nos prende a atenção nos fazendo pensar, nos emocionando e, ainda por cima, nos fazendo soltar sonoras gargalhadas no meio da leitura! E, como disse Alice, antes de entrar no país das maravilhas, de que vale um livro sem diálogos e sem figuras? E este livro tem ambos.

Angela Carneiro

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